Foto: Pedro Arbués Dantas - Livro de Donatilla Dantas 25-10-1970
Foto: Pedro Arbués Dantas - Livro de Donatilla Dantas 25-10-1970
1. A lenda do cantar
Na fazenda Baixa Verde, o Major Antônio Dantas estabeleceu-se como criador de gado. Era esta a principal atividade desenvolvida na região do Seridó, entre os séculos XVIII e XIX, mas o cultivo de lavouras, embora este fosse direcionado mais para a subsistência.
Segundo reza a tradição, os vaqueiros do Major Antônio Dantas, campeando e cuidando do gado, nas proximidades de um acidente geográfico da região, chamado de Serrote Grande, escutaram o cantar do galo, alguns achavam que nada mais era que uma voz vinda do alto do serrote, anunciando algo de misterioso. Algo que impressionava os vaqueiros que ouviram tal "cantar", era o fato de que, além de Major Antônio Dantas e sua família, não haviam habitantes nas suas proximidades.
Passado esse misterioso fato, o Serrote Grande passou a ser conhecido como Serrote do Galo, a fazenda Baixa Verde, onde habitavam os Dantas Correia, passou a ser conhecida como Fazenda Galo.
O fato realmente trouxe mudanças consideráveis para a região, das quais a principal deva ser essa mudança de nomes.
Segundo informações de José Paulino Dantas ( Zé Dantas do Galo, sobrinho-neto de José Paulino Dantas, filho do Major Antônio Dantas), certa vez um tio do referido, com problemas mentais, correu atrás de uma cabra, em cima do Serrote do Galo. O pobre animal, com uma semana de fome, caiu de cima do serrote e não teve nada de grave. Apesar desse tipo de animal ter certa familiaridade com locais íngremes e pedregosos, os 155 metros de altura do Serrote do Galo eram uma queda considerável.
2. A consolidação da lenda
Passado o século XIX, a tradiçaõ dos carnaubenses tomou o aconteceimento no Serrote do Galo como um fato com relação aos poderes divinos. Os matutos, tropeiros e comerciantes que passavam pela Povoação de Carnaúba (década de 1920) saíam sabendo do ocorrido há tanto tempo. Os carnaubenses perpetuaram o cantar do galo.
Na véspera de São João do ano de 1928, sairam vários carnaubenses para um piquenique em cima do serrote. Chegado ao sopé do serrote, armaram-se de facão e começaram a íngreme escalada. Zé Dantas, o primeiro, ia na frente, abrindo o caminho, seguido por Pedro Alberto Dantas, Joaquim Paulino de Medeiros Filho (Jaco), Dr. Flávio Marója Filho, José Alberto Dantas, Manoel Francisco Dantas, José Victor dos Santos, João Arapucão, Cesário Cândido de Medeiros, José Domingos Dantas, José Amaro e João Cândido Filho (à época, chefe político da povoação). Já no cimo do serrote, surge entre os presentes a ideia de erguerem ali, um galo, em homenagem à tradição dos antepassados. Mas, para a povoação pobre de Carnaúba, só foi possível a ereção de um Cruzeiro, fazendo homenagem a fé católica dos habitantes da Carnaúba.
A obra religiosa de construção do Cruzeiro foi assumida pelo senhor Pedro Alberto Dantas.
3. O Cruzeiro do Serrote do Galo
O Cruzeiro foi construído pelo senhor José Paizinho, orientado pelas virtudes arquitetônicas do gênio Mamede Azevêdo. A data de inauguração foi marcada para o dia 27 de setembro do mesmo ano. Nessa data, a inauguração da referida obra teve que ser adiada, devido à uma grande tempestade, que fez a cruz falsear e tombar; quebraram-se três raios da Cruz. Houve um grande alarido de pessoas, mas no momento, não terminou em nada grave. A nova data marcada para a inauguração foi 25 de outubro, em homenagem ao casamento de Pedro Alberto Dantas com sua esposa, dona Margarida Delmira Dantas, ocorrido nessa data, em 1911.
O Cruzeiro do Serrote do Galo foi bento na data acima referida, pelo Padre Bianor Emílio Aranha, que celebrou, na ocasião, a primeira missa. Aproveitando a oportunidade, o senhor Pedro Alberto e sua família, fizeram a doação para o Cruzeiro da imagem de Nossa Senhora das Vitórias, que estava na Igreja de São José (Carnaúba dos Dantas/RN) e subiu para o serrote em procissão religiosa.
Nossa Senhora das Vitórias de Maria passou a ser a protetora daquele serrote e da terra carnaubense.
4. Nossa Senhora das Vitórias de Maria
Pedro Alberto Dantas (1878-1960) residia com sua família no sítio Xique-Xique (Carnaúba dos Dantas/RN). No início do século XX, com esperança de melhora de vida, dirigiu-se à região Norte, onde trabalhou na extração de látex nos seringais, durante o Ciclo da Borracha.
Trabalhando entre o Pará e o Amazonas, ladeando as margens do Rio Puruz, foi acometido de beribéri. Ficou entre a vida e a morte, praticamente em estado de coma, quando foi aliviado com a aparição de um vulto feminino, com manto azul e rosa, dizendo: "Sou Nossa Senhora das Vitórias e venho te proteger".
Cessada a grande febre de beribéri e revigoradas as suas forças, Pedro Alberto resolveu voltar a sua terra natal, a Povoação de Carnaúba. Antes passou na capital do Pará, Belém, onde comprou a imagem de Nossa Senhora das Vitórias num centro comercial de um velho português. Embalou a imagem num pacote seguro e embarcou num navio da Loide para Natal, capital do Rio Grande do Norte. De Natal, voltou para o Seridó em um cavalo, conduzindo a imagem de Nossa Senhora na cangalha, de um burro. No sítio Xique-Xique, onde residia, foi recepcionado pela Banda Musical regida por seu irmão, José Alberto Dantas. A imagem passa a fazer parte do oratório paterno, indo com Pedro Alberto para sua casa, quando ocorreu seu casamento (1911). Indo residir na Povoação de Carnaúba, doou a imagem de Nossa Senhora das Vitórias para a Igreja de São José. O período da sua estadia na referida Igreja, num dos altares laterais, foi marcado pelo fato de terem ocorrido duas graças pela intercessão de Maria Santíssima, uma com dona Josefa Martins, de Carnaúba dos Dantas e outra com uma senhora de Juazeiro, na zona rural do município de Parelhas/RN.
Por ocasião da inauguração do Serrote do Galo, em 1928, Pedro Alberto Dantas resolve fazer a doação da imagem para o Cruzeiro, notando que aquele local era santo. Nasceu, então, a devoção a Nossa Senhora das Vitórias.
Texto retirado de um livreto que conta de forma resumida a história de devoção à Nossa Senhora das Vitórias e publicado no blog Amigos de Santa Vitória
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