G1 – Um acidente de trabalho em 2006 mudou completamente a vida do soldador Edilson Jesus, na época com 23 anos. Após sofrer três descargas elétricas, ele teve os dois braços amputados, passou por onze cirurgias, é colostomizado (quando o intestino grosso fica fora do organismo e as fezes são coletadas em uma bolsa que fica no abdômen) e usa sonda para urinar. Nada disso fez com que ele perdesse a vontade e a alegria de viver. Edilson se reinventou, desenvolveu a habilidade de fazer as coisas com os pés e hoje é designer gráfico. “A vida é maravilhosa. Não há limites pra ninguém. Eu amo a vida. Eu tive uma nova oportunidade e quero aproveitar muito bem cada dia”, diz.
Edilson trabalhava no reparo de um outdoor na entrada da cidade de Caicó, onde mora até hoje, quando o cabo de ferro que ele segurava acertou um fio de alta tensão da rede elétrica. Na primeira descarga elétrica um colega de trabalho de Edilson caiu do andaime onde estavam, a 6 metros de altura, teve traumatismo craniano e morreu. Edilson não conseguia se mexer e continuou pendurado na estrutura do outdoor. Outras duas descargas elétricas atingiram o soldador que naquele momento já não sentia mais as pernas. Uma hora e dez minutos se passaram até o socorro chegar.
“Enquanto eu estava lá em cima passou um filme da minha vida na cabeça. Eram pequenos flashs, coisas que eu nem lembrava mais. Eu achei que ia morrer”, conta. Edilson foi socorrido e levado para o Hospital Walfredo Gurgel, em Natal. Da internação até a alta foram 180 dias. Entre tratamentos e cirurgias, Edilson se tornou um exemplo de vida já no hospital. O bom humor, mesmo diante da gravidade do caso, fazia com que as enfermeiras levassem outros pacientes para conversar com ele para se animarem.
Após a alta, Edilson teve que se adaptar à nova realidade. Com a ajuda da família e dos amigos, foi superando, aos poucos, as barreiras que apareciam. Muitas das coisas que antes Edilson fazia com as mãos, ele aprendeu a fazer com os pés: atender o telefone, escrever e até digitar. Sem perder a vontade de viver, ele continuou na organização do bloco de carnaval que sempre fazia. Um dia, quatro anos depois do acidente, quando foi mandar fazer a camiseta do bloco, ele levou um “chá de cadeira” para ser atendido porque não tinha a arte da camiseta pronta.
“Saí de lá disposto a aprender a fazer uma arte e comecei a mexer no computador. Passei noites estudando, me aperfeiçoando, fazendo testes, até conseguir criar uma arte. Quando eu levei o desenho para a gráfica eles me perguntaram quem tinha feito e eu respondi: ‘fui eu’. Ninguém acreditou”, conta Edilson.
Foi então que surgiu a ideia de trabalhar como designer gráfico. Os trabalhos começaram a aparecer, foram aumentando, e hoje ele consegue uma renda extra – além da aposentadoria – com o serviço de designer gráfico. Edilson acredita que no começo as pessoas o contratavam mais por curiosidade, pra ver como ele mexia no computador com os pés, mas o tempo foi passando e os clientes continuaram aparecendo. O escritório fica anexo à casa onde ele mora. “O trabalho é uma terapia. É muito bom acordar e saber que eu posso produzir, criar alguma coisa”, diz.
Fonte: G1 RN
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